23 de fevereiro de 2011

Produção de vídeo para o ensino de Química Orgânica através do tema “drogas”: articulando a Química com a sua História.

Letícia dos Santos Pereira*, Maria da Conceição Marinho Oki, Isadora M. Gonzalez


Palavras-Chave: Ensino de Química Orgânica, História da Química, Drogas

Introdução Neste trabalho relatamos um projeto desenvolvido dentro do programa institucional de bolsas de iniciação à docência – PIBID em um colégio da rede estadual de Salvador. Tivemos como objetivo produzir um material didático alternativo (vídeo) para subsidiar um projeto de Ensino de Química Orgânica no 3º ano do nível médio, levando em conta a História da Química e o tema gerador “drogas” 1. Muitos pesquisadores vêm defendendo a abordagem da História e Filosofia da Ciência (HFC) no Ensino de Ciências2, 3, 4. Apesar de um número expressivo de trabalhos afirmarem a importância da HFC no ensino de ciências, na prática este tipo de abordagem é pouco utilizada pelos professores devido a obstáculos de natureza diversas, entre os quais a falta de materiais didáticos que abordem a ciência sob uma perspectiva histórico-crítica5. Considerando a carência de materiais didáticos que apresentam uma abordagem histórica dos conteúdos químicos, produzimos um vídeo com episódios enfocando a história da Química Orgânica e de três substâncias químicas psicoativas: a diacetilmorfina (heroína), a nicotina e a cafeína; explorando suas semelhanças e diferenças em aspectos químicos, históricos e sociais.

Resultados e Discussão

Inicialmente foram realizadas pesquisas em livros, periódicos e sítios na internet buscando a obtenção da fundamentação teórica necessária para a produção do roteiro do vídeo. As pesquisas foram referentes à gênese e desenvolvimento do conceito de estrutura molecular ao longo da História da Química clássica e sobre a história e as propriedades químicas das substâncias psicoativas escolhidas. Após a coleta de dados, foi redigido o roteiro para o filme, que foi estruturado em cinco capítulos: 1-Introdução, 2-Heroína, 3-Nicotina, 4-Cafeína e 5-Conclusões. Para a montagem e edição do vídeo, foram coletadas imagens e utilizado o programa Windows Movie Maker®. O vídeo foi exibido em duas turmas do 3º ano do Ensino Médio. Após a exibição os alunos fizeram algumas sugestões e críticas quanto à estrutura do vídeo. Depois de feita a avaliação qualitativa do material foi realizada uma discussão em sala, onde os alunos debateram diversas questões surgidas a partir do conteúdo exposto. Entre elas destacamos: 1- porque muitas substâncias classificadas como “drogas” eram (e são) usadas como medicamentos e vice-versa; 2- quais os critérios para se classificar uma substância como uma “droga”; 3- a influência da estrutura molecular nos efeitos das substâncias químicas no organismo e 4- curiosidades da história das substâncias psicoativas tratadas no material.
Conclusões

O material produzido foi bem recebido pelos estudantes, que se mostraram muito interessados pela forma como o conteúdo foi apresentado. As sugestões feitas pelos estudantes contribuíram para o aperfeiçoamento do vídeo, que está disponível em:http://quiblogufba.blogspot.com. O grupo PIBID pretende dar continuidade ao projeto em 2010, produzindo outros materiais que abordem a Química sob uma perspectiva contextualizada, articulando esta ciência com a História, a Filosofia e temas sociais relevantes, como as drogas.

Agradecimentos

A CAPES, por meio do PIBID, pela bolsa concedida.

____________________ 1- GONZALEZ, I.M.; SILVA, J.L.P.B. Projeto de ensino do tema Drogas no ensino da Química Orgânica. In: Encontro Nacional de Ensino de Qumica, XIV, 2008, Curitiba. Caderno de Resumo, Curitiba, 2008. 2-MATTHEWS, M.S. História, Filosofia e Ensino de Ciências a tendência atual de reaproximação. Cad. Cat. de Ens. de Fís., v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995. 3- FREIRE Jr., O. A relevância da filosofia e da história da ciência para o ensino de ciência. In: Silva Filho. J. (Org.). Epistemologia e ensino de ciências. Salvador: Arcádia, 2002. p. 13-30. 4- OKI, M.C.M.; MORADILO, E.F. O ensino de história da química: contribuindo para a compreensão da natureza da ciência. Ciência & Educação. Bauru, v.14, n.1, p. 67-88. 2008. 5- MARTINS, A. F.P. História e filosofia da ciência no ensino de ciências: há muitas pedras nesse caminho. Cad. Bras. Ens. Fís.. Brasília, v. 24, n.1, p. 112-131, 2007.


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vídeo HEROÍNA, NICOTINA E CAFEÍNA - Breves Histórias sobre três alcalóides


18 de fevereiro de 2011

Plano de ensino sobre soluções, articulado a experimentos e avaliação da aprendizagem, segundo a Teoria da aprendizagem Significativa de Ausubel.


José Joaquim do Amaral Filho* (FM), Maria Lucia da Silva Marques(PQ), Alzenir (Estudante Licenciatura), Cristovam Ribeiro Brito (Bolsista PIBID), Marcus Paulo Reis Santos (Bolsista PIBID), Luciane Brito da Paixão (Bolsista PIBID).

Palavras-Chave: Aprendizagem, experimento

Introdução e Metodologia

A tríade, pesquisadores em educação química (NUPEQUI), professor de ensino médio e alunos da licenciatura (bolsistas PIBID), realizou estudos sobre soluções, em uma Unidade de 12 h, no 2º ano do ensino médio de um colégio conveniado ao PIBID. O diagnóstico direcionou a metodologia e as ações, semanalmente reavaliadas, caracterizando a pesquisa-ação, Thiollent7. Como Carmo e Marcondes1 trabalhamos soluções, centrados na ideia da homogeneidade. Abordamos o assunto de forma equilibrada quanto aos aspectos quantitativos e qualitativos. Para Hodson2 e Lobo5, os experimentos podem contribuir para a construção dos conceitos científicos estruturantes, definidos por Lima4, e foram selecionados com os seguintes objetivos: a) demonstrar o processo de dissolução; b) ilustrar os conceitos científicos de sistema heterogêneo, solução e substância, c) demonstrar a influência do soluto e da temperatura no coeficiente de solubilidade, evidenciando sempre os aspectos macroscópicos. Os questionários e as aulas de exposição participada conduzidas pelo professor do colégio e bolsistas PIBID, estimularam os estudantes e consolidaram o nível representacional e o teórico significativo, Johnstone7.

Resultados e Discussão

As pré-concepções sobre o conceito de dissolução mostraram que os estudantes reconhecem o processo macroscopicamente, mas não conseguem interpretá-lo microscopicamente. Quanto aos conceitos científicos de solução e substância, as taxas de acerto foram irrelevantes, (<>
Conclusões
Embora se constate a evolução da construção conceitual na estrutura cognitiva dos estudantes sobre o processo de dissolução, e sobre os dois conceitos científicos estruturantes investigados, não podemos garantir que ocorreram através de um processo de interação pelo qual conceitos mais relevantes e inclusivos interagem com o novo material servindo de ancoradouro, incorporando-o e assimilando-o e, ao mesmo tempo, modificando-se em função dessa ancoragem. Isso caracterizaria a aprendizagem significativa. Ausubel define a aprendizagem mecânica como aquela que ocorre quando novas informações são aprendidas praticamente sem interagirem com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva, sem ligarem-se a conceitos subsunçores específicos. Segundo ele, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária e literal, não interagindo com aquela já existente na estrutura cognitiva e pouco ou nada contribuindo para sua elaboração e diferenciação, Moreira6. Trabalhamos com a hipótese de que, embora tenha havido aprendizagem, a mesma deve ter ocorrido de forma mecânica. A continuidade da pesquisa poderá ratificar a hipótese.
Agradecimentos
CAPES financiamento do PIBID, ao NUPEQUI - IQ –UFBA, ao Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes.
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1CARMO, P.M.; MARCONDES, M.E.R.Abordando Soluções em sala de Aula – uma Experiência de Ensino a partir das Ideias dos Alunos.Química Nova na Escola, nº28, maio 2008. 2HODSON, D. Philosophy of Science, science and science education. Studies in Science Education, n.12, p.25-27, 1985. 3JOHNSTONE, A.H.;MACDONALD, J.J.;WEBB, G. Macro and microchemistry. The School Science Review. v.64, n.227, p.377-379, 1982. 4LIMA, M.E.C.C.; BARBOSA, L.C. Idéias estruturadoras do pensamento químico: uma contribuição ao debate. 5LÔBO, S.F. O trabalho experimental no ensino médio de Química. 25°ENEQ, Campinas, 2006. 6MOREIRA, M.A. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Ed. UnB, 2006. 7THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 15. ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2007.

Plano de ensino sobre estequiometria, recorrendo à experimentação com recurso didático, e avaliação da aprendizagem segundo alguns pressupostos da TAS


Maria Lucia da Silva Marques* (PQ), Joaquim Amaral (FM), Cristovam Ribeiro Brito (Bolsista PIBID), Marcus Paulo Reis Santos(Bolsista PIBID), Luciane Brito da Paixão(Bolsista PIBID).

Palavras-Chave: Aprendizagem significativa

Introdução e Metodologia

Pesquisadores em Educação Química do IQ UFBA - NUPEQUI (Núcleo de Pesquisa em Ensino de Química), estudantes da licenciatura (bolsistas PIBID), e professores do ensino médio, planejaram, executaram e avaliaram a aprendizagem de estequiometria, no 2º ano do Ensino Médio. Relatos reorientaram o planejamento, caracterizando a pesquisa-ação. As pré-concepções dos estudantes sobre os conceitos científicos de reação química e estequiometria foram categorizadas. Os experimentos, a aplicação de questionários e discussões, na dimensão proposta por Giordan, e a provocação dialógica estimularam a participação dos estudantes. A professora e os bolsistas realizaram em dois momentos exposição participada, revisando os conceitos. As pós-concepções indicam a evolução cognitiva. Na avaliação processual, alguns estudantes passaram a utilizar o modelo atômico-molecular para explicar a reação química.

Resultados e Discussão

As pré-concepções dos estudantes sobre o conceito de reação químicas foram: junção, mistura, transformação, reação ou mudança de estado e para estequiometria, foram: contato, substância, matérias, favoráveis a reação, e substâncias diferentes, o que indica a não existência dos subsunçores relativos as leis das reações químicas e suas relações com conceitos afins. As aulas de exposição participada pela professora do colégio e bolsistas PIBID, em dois momentos promoveram a diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa, promovendo a evolução cognitiva destes, pois foram reelaborados. Na avaliação processual alguns estudantes resolveram problemas sobre estequiometria. A avaliação dos resultados revela que os experimentos, os questionários, as discussões do texto e as aulas de exposição participada, foram relevantes no processo de evolução cognitiva dos conceitos científicos de reação química,e estequiometria.

Conclusões

A tríade de interação profissional vivenciada pelo PIBID estreitou os vínculos entre a escola e a universidade, melhorando a formação inicial e continuada de professores, pela inserção dos estudantes da licenciatura na prática profissional. Os bolsistas estimularam o envolvimento dos estudantes do colégio, superando sua passividade. Quanto à aprendizagem, trabalhamos com a hipótese de que a realização dos experimentos, os questionários e discussão funcionou como um material instrucional facilitador, relevante no processo de evolução cognitiva dos estudantes, no que se refere à construção dos conceitos científicos de reação química e estequiometria. Ao longo da avaliação processual, parte dos estudantes passou a articular o macroscópico e o microscópico, utilizando o modelo atômico-molecular para explicar a reação química. Na avaliação escrita aparecem conceitos científicos antes inexistentes, demonstrando que surgiram subsunçores, porém omo Ausubel não estabelece a distinção entre a aprendizagem significativa e mecânica como sendo uma dicotomia, e sim um continuum, assim não há como garantir em que ponto do contínuo essa aprendizagem se encontra. A hipótese de que as aulas de revisão ministradas pelo professor do Ensino Médio, em conjunto com os bolsistas PIBID, promoveram a reconciliação integrativa e a diferenciação progressiva é sustentada pela análise das respostas dos estudantes na última atividade de avaliação processual. Esta mostra indícios da capacidade destes de integrar, modificar e estabelecer novas relações entre os conhecimentos prévios e os novos conhecimentos adquiridos.

Agradecimentos

Agradecemos aos financiadores da pesquisa, aos professores e estudantes que compõem o NUPEQ e o PIBID. Colégio Estadual da Bahia

____________________
ANDERSON, B. Pupil’s explanation of some aspects of chemical reactions. Science Education, v.70, n.5, 1983.
CAZZARO, F. Um experimento de estequiometria. Química Nova na Escola, n.10, 1999.
GIORDAN, M. O papel da experimentação no ensino das ciências. Química Nova na Escola, n.10, 1999.
LOBO, S. F. O trabalho experimental. XXV Reunião da SBQ, 2000.
SCHNETZLER, R. 6th European Conference on Research in Chemical Education. Portugal, 2001.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 15. ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2007.

O uso do trabalho experimental para a construção de uma proposta de intervenção didática sobre o tema Soluções


Sandra Regina Costa Santos (IC)1*, Carlos Alberto Miranda Duplat Junior (IC)1, Soraia Freaza Lôbo (PQ)1, Sonilda Mª Teixeira da Silva (PQ)2

1 Universidade Federal da Bahia, 2 Secretaria de Educação do Estado da Bahia
Palavras-Chave: Experimentação, processo de dissolução, intervenção didática.

Introdução
Este trabalho foi desenvolvido como parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID/CAPES, no 2º semestre letivo do ano de 2009, em uma turma de 2º ano do nível médio, no Colégio Estadual da Bahia, na cidade de Salvador.
O objetivo do trabalho foi conhecer as concepções dos alunos acerca do processo de dissolução, para a construção de uma proposta de intervenção nas aulas que abordaram o tema Soluções, utilizando a experimentação como principal recurso didático.
É sabido que, muitas vezes, os alunos chegam à sala de aula com idéias pré-concebidas e consolidadas. Estas idéias prévias estão carregadas de sentido para os discentes e, por este motivo, são resistentes a mudanças1. Nesta perspectiva, o conhecimento das concepções dos alunos pode potencializar a utilização de recursos didáticos que permitam a construção dos conceitos, a partir do seu envolvimento nas atividades desenvolvidas. Neste aspecto, o trabalho experimental pode ser um ótimo aliado neste processo.
A escolha do tema Soluções decorreu do reconhecimento da sua relevância para a compreensão de outros conceitos químicos; no entanto, o ensino do tema Soluções, no nível médio, especialmente dos aspectos microscópicos relativos ao processo de dissolução, tem sido problemático, uma vez que muitos alunos têm dificuldade de compreendê-lo como uma interação entre substâncias, evidenciando a ausência de uma compreensão microscópica da dissolução2.

Resultados e Discussão

O trabalho foi desenvolvido em uma turma de 22 alunos, com atividades divididas em algumas etapas. Com o objetivo de motivá-los para a discussão do tema e levantar as suas concepções relativas ao processo de dissolução do cloreto de sódio em água, foi elaborada uma estória envolvendo uma situação do cotidiano dos alunos. Nesta fase, a partir da leitura da estória, os alunos deveriam propor uma explicação para o que ocorreu com o sal de cozinha quando colocado em água e, em seguida, apresentar, por meio de representação gráfica, dois sistemas: um contendo somente água e outro contendo uma solução aquosa de cloreto de sódio. A partir dos resultados obtidos, identificamos as principais dificuldades dos

discentes quanto à compreensão do processo de dissolução. A análise das concepções prévias mostraram que os alunos entendiam o processo de dissolução como espalhamento; desaparecimento; decantação; separação, junção,sobreposição. Nota-se que estas concepções estão longe de representar o processo microscópico de dissolução.
Após o levantamento e análise das concepções prévias, foi feita uma intervenção didática utilizando um experimento simples, que consistiu na dissolução dos sais NaCl, NaHCO3 e CaCO3 em água e na aplicação de um questionário com o objetivo de verificar a evolução conceitual dos alunos. Constatou-se que apenas 30% dos discentes demonstrou compreender, microscopicamente, o processo de dissolução, apesar da dificuldade de expressá-lo utilizando a linguagem científica; metade dos alunos descreveu o processo, enfatizando o nível macroscópico e os demais não apresentaram respostas coerentes. Vale a pena ressaltar que, mesmo aqueles que não mostraram uma compreensão microscópica do processo, conseguiram representar adequadamente, através de desenhos, o processo de dissolução do cloreto de sódio em água.

Conclusões

Esta pesquisa mostrou que a atividade experimental potencializou a evolução conceitual dos alunos e, se adequadamente mediada pelo professor, poderá ser um recurso didático importante para a incorporação da linguagem científica pelo aluno.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelas bolsas concedidas.

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1SCHNETZLER, R.P. e ARAGÃO, R. Química Nova na Escola, n.1, maio 1995, p.27-31.
2 ECHEVERRÍA, A. R. Química Nova na Escola, n.3, maio 1996, p. 15-18.

Classificação de objetos de aprendizagem: uma análise de repositórios brasileiros

Lucas Vivas de Sá*, Juscilene V. de Almeida, Marcelo L. Eichler.



Palavras-Chave: informática educativa, ensino de química, material didático.

Resumo: Os recursos de informática se constituem hoje em uma poderosa ferramenta para o ensino de química. Dentre esses recursos podem ser citados os objetos de aprendizagem, que podem ser inseridos como materiais didáticos para a educação química. No Brasil, dois grandes repositórios são o LabVirt e o Portal do Professor, que apresentam uma grande quantidade de objetos. Neste trabalho, realiza-se a análise e a classificação dos objetos contidos nesses repositórios onde é feita uma discussão acerca de objetos de aprendizagem para o ensino de química produzidos no Brasil e no exterior.

Introdução
Há uma relação de troca entre o sistema educacional e a sociedade. Com a incorporação da informática na sociedade e com sua difusão, atingindo a cada dia um contingente maior de indivíduos, acaba ocorrendo, desta forma, uma mudança no perfil da sociedade, tornando-a uma sociedade informatizada, refletindo-se também uma alteração no perfil dos alunos e de seus interesses.
O uso da informática na educação vem aumentando a cada dia. E está presente em muitas escolas vinculada à rede pública de ensino, mesmo que esta não esteja diretamente auxiliando no aprendizado do alunado. Através do uso de ferramentas da informática o professor tem acesso a vários recursos que podem facilitar na elaboração do material didático para serem usados em aula. Tais ferramentas, também, podem ser o objeto de estudo do próprio aluno. Ele pode interagir com o recurso de tal modo que o construa o seu conhecimento.
Entretanto, entende-se que a tecnologia não pode ser vista como redentora dos problemas educacionais. No início da década de 80, época do primeiro ciclo de informatização das escolas brasileiras, já se indicava que o uso do computador em atividades de ensino ou de aprendizagem não deveria ser visto como uma saída para a crise do sistema educacional brasileiro (Eichler e Del Pino, 2000). Atualmente novas ferramentas comunicacionais informatizadas estão sendo desenvolvidas para auxiliar na construção do conhecimento, sendo mais um suporte para a compreensão deste. Ao contrário do livro, um meio estático capaz de servir de suporte apenas a representações visuais, os novos meios articulam representações visuais animadas, representações sonoras e o próprio texto escrito, que também pode ganhar movimento (Meleiro e Giordan, 1999).
Para a química, a informática educativa é uma ferramenta de grande potencial para auxiliar o seu ensino, uma vez que, muitas vezes alguns conceitos se tornam bastante abstratos caso não haja uma modelagem ou uma simulação do que ocorre na situação real. Sendo assim a informática, através de seus recursos, pode gerar ambientes de aprendizado que façam com que o aluno interaja com um sistema que simule uma realidade de modo que ele possa analisar, observar e/ou modificar parâmetros afim fazer uma conexão com a teoria para que ocorra uma aprendizagem construtiva.
As vantagens da utilização desses recursos é que, como dito antes, muitas vezes os conceitos não são palpáveis e o computador pode tornar isso um pouco mais visível para o aluno, além de o aprendiz poder interagir com algumas ferramentas e dados que ajudam formação de uma teoria e ainda aplicar os conhecimentos adquiridos ou fazer relações de um conteúdo com conhecimentos que os alunos já sabiam.
Dentre os diversos recursos da informática que podem ser utilizados no ensino de química podemos destacar os objetos de aprendizagem.
Objetos de aprendizagem e os repositórios:
Os objetos de aprendizagem (OA’s) são ferramentas reutilizáveis que usam varias modalidade de mídia em um contexto educacional (Tarouco e Dultra, 2007), sendo então um material didático que tem como característica a facilidade de acesso por qualquer pessoa. Eles surgem da necessidade de se criar materiais pedagógicos auto-instrutivos de fácil acesso e que possam ser reutilizados sempre que necessário por diversas pessoas. Ele pode conter simples elementos como um texto ou um vídeo. Ou ainda, ele pode ser um hipertexto, um curso ou até mesmo uma animação com áudio e recursos mais complexos, podendo ser usados em diferentes contextos e em diferentes ambientes virtuais de aprendizagem.
Ao desenvolver um objeto de aprendizagem deve-se levar em consideração a conciliação de áreas (Nascimento, 2007), como por exemplo, entre os profissionais das áreas de informática (programação), área de química (conteúdo) e área de ensino (para as teorias de aprendizado), de forma a não gerar conflitos e equívocos entre as informações trazidas, preocupando com a interatividade do software de forma que o usuário não formule concepções inadequadas e desenvolva a sensação de monotonia ao usar o aplicativo.
Se não ocorre essa conciliação, geralmente aparecem problemas com os OA’s como: i) o excesso de ludismo, onde o objeto fica muito bom do ponto de ilustrativo, mas com pouco conteúdo; ii) há monotonia, o objeto fica com muito conteúdo e falta a parte do ludismo, que se manifesta com a interatividade; iii) o não aproveitamento dos recursos, que acontece quando a comunicação com a área da informática ocorre de maneira parcial e então o criador não aproveita bem os recursos disponíveis na informática; ou iv) quando são aplicados contextos inadequados e quando são colocadas situações que não condizem com o assunto abordado (Nascimento, 2007).
Como dito antes, um objeto deve ter a característica de ser reutilizável, sendo assim, para que o objeto de aprendizagem possa ser recuperado e reutilizado, é preciso que esse objeto seja devidamente indexado e armazenado em um repositório (Santos, Flores e Tarouco, 2007).
No Brasil, existem dois principais repositórios de objetos de aprendizagem um criado pelo MEC, o Portal do Professor (portaldoprofessor.mec.gov.br) e outro criado pela USP, o Laboratório Didático Virtual (LabVirt; http://www.labvirt.fe.usp.br/).
O Portal do Professor foi desenvolvido pelo MEC em 2008 e abriu espaço para a disponibilização de diversos objetos de aprendizagem, se tornando então um grande repositório brasileiro ao qual englobou o RIVED (Rede Interativa Virtual de Educação) que teve início em 1997 com um acordo Brasil-Estados Unidos para o desenvolvimento da tecnologia para uso pedagógico, onde mais tarde o processo de fabricação dos objetos de aprendizagem se expandiu para as universidades e a essa ação foi dada o nome de Fabrica Virtual (Cirino e Souza, 2009).
Por sua vez, o LabVirt foi um projeto da Escola do Futuro da USP, realizado em parceria com diversas instituições e empresas (Secretaria de Educação/SP, Microsoft, Macromedia, Fundação Vitae e Fundação Itaú), que teve por objetivo a criação de “simulações virtuais” nas áreas de física ou de química, integradas ao currículo escolar da escola básica. Nesse projeto, os alunos de escolas de ensino médio foram co-produtores dos objetos de aprendizagem, pois os roteiros de produção foram por eles desenvolvidos em sala de aula (Vinha, 2007).
Classificação dos objetos de aprendizagem
Segundo Churchill (2007), um eminente professor especialista em tecnologias de educação e design instrucional, que produziu diversos objetos de aprendizagem, a classificação desses recursos educacionais envolveria as seguintes categorias: objetos de apresentação, prático, simulação, modelo conceitual, informação ou representação contextual.
Os objetos de apresentação têm o propósito de apenas transmitir certo conceito. Esse tipo de objeto utiliza mensagens seqüenciais para fazer essa transmissão de conhecimento, com o mínimo possível de interatividade. Um clássico exemplo desse tipo é o objeto “Solvente no motor, como estragar seu carro” (www.labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/quimica/sim_qui_solventenomotor.htm), conforme Figura 1, que mostra apenas uma história onde os personagens contam que um carro que apresentou defeito e o mecânico explica o motivo do carro ter parado, apresentando o conteúdo proposto pelo objeto, o teste de teor de álcool na gasolina.
Os objetos práticos permitem praticar certos procedimentos através de determinadas atividades, fazendo com que o aluno necessite ter um pouco mais de interatividade com o objeto. Dentre eles, pode-se citar o objeto “Balanceamento de equações” (www.labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/quimica/sim_qui_balanceando.htm), como pode ser visto na Figura 2, onde são apresentados vários exercícios sobre balanceamento em que o aluno deve responder corretamente para ir avançando no objeto, ou seja, ele pratica um determinado conteúdo.







Objetos de simulação são recursos que simulam um sistema ou procedimento real onde permite que os alunos obtenham ou manipulem os dados daquela situação simulada. Para ilustrar essa categoria tem-se o objeto “Pilha de Daniel” (http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/recursos/18002/pilha.swf), vide Figura 3. Esse objeto mostra um sistema ao qual simula uma pilha de Daniel, onde se tem alguns metais que o aluno pode escolher e então dois béqueres com suas respectivas soluções e o funcionamento da pilha.
Os objetos do tipo modelo conceitual apresentam uma ou mais idéias relacionadas de modo interativo e visual, permitindo a visualização de um mesmo parâmetro de diversas formas (números, gráficos, etc.). Um exemplo é o objeto “Estados da matéria” (http://phet.colorado.edu/sims/states-of-matter/states-of-matter_pt.jnlp), ilustrado na Figura 4, onde são mostradas as mudanças de fase da água através da visualização do sistema, de um termômetro e do gráfico da temperatura pela pressão mostrando as mudanças de estado.

Figura 3 – Exemplo de objeto de simulação. Figura 4 – Exemplo de objeto de modelo conceitual.

Os objetos de informação apresentam um amplo conjunto de informações de imagens ou outras modalidades de forma dinâmica, onde o aluno decide qual tipo de informação ele quer visualizar. Pode-se ilustrar esse tipo de objeto com o “Petróleo: do mar a refinaria” (objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/8351), onde são mostradas ilustrações dos lugares por onde o petróleo passa, veja a Figura 5, e o aluno pode clicar onde ele quiser para obter informações sobre o que se trata cada parte do complexo. Esse tipo de objeto é parecido com os infográficos que são amplamente difundidos no jornalismo eletrônico, na apresentação de obras e projetos, por exemplo.

Figura 5 – Exemplo de objeto de informação. Figura 6 – Exemplo de objeto de representação contextual.
Por fim, os objetos do tipo representação contextual permitem que o aluno explore um cenário real para obter dados de modo que ele possa resolver certos problemas de um determinado conteúdo ou construir esse conhecimento. Um exemplo para ilustrar esse tipo de objeto é o “Water experiment”, que está disponível em repositórios em inglês (www.learnactivity.com/lo/), onde se mostra uma foto de um lago ao qual o aluno tem que coletar amostras e fazer análises para resolver um problema. Esse tipo de objeto utiliza a clássica proposta de David Whisnant (1984) para os softwares educativos, que serviram de inspiração para produção de softwares educativos como Carbópolis (www.iq.ufrgs.br/aeq/carbop) e Cidade do Átomo (www.iq.ufrgs/aeq/cidatom), que atualmente estão sendo atualizados tecnologicamente e sendo convertidos em objetos de aprendizagem. Porém, o plug-in Authorware Player que ele utiliza só possui suporte para os browsers Netscape e Internet Explorer, não sendo possível utilizar o objeto de aprendizagem no Mozilla Firefox ou no Google Chrome.

MATERIAIS E MÉTODOS.
No âmbito do Programa de Iniciação à Docência, PIBID, desenvolvido na UFBA, a classificação proposta por Churchill (2007) foi utilizada para a análise dos objetos de aprendizagem difundidos em repositórios brasileiros, o Portal do Professor e o LabVirt. O objetivo dessa análise é selecionar e indicar objetos que possam ser trabalhados em sala de aula do ensino médio das escolas públicas participantes do programa. É preciso ressaltar que quando se utilizam classificações pré-categorizadas (onde se utilizam categorias anteriores para se fazer a posterior análise) existe o problema de um mesmo objeto em análise poder ser enquadrado em mais de uma categoria. Sendo assim, no trabalho, pode ocorrer de um mesmo objeto de aprendizagem aparecer em duas classificações diferentes.
Foram classificados em um total de 145 objetos, sendo 32 encontrados no portal do professor/rived e 113 no LabVirt.
Essa classificação foi executada em duas etapas. Na primeira etapa, a análise e a classificação foi individual, realizada pelos dois bolsistas participantes do PIBID/UFBA. Em um segundo momento, as classificações realizadas pelos participantes foram discutidas e ponderadas as divergências, formando uma única classificação.
Nos gráficos abaixo podem ser vistos os resultados das classificações de cada um dos bolsistas:


Figura 6: Classificação do participante 1. Figura 7: Classificação do participante 2.

Analisando os dois gráficos, pode-se observar que houve uma discrepância significativa na classificação dos dois participantes. A primeira delas é que para o primeiro participante houve um tipo de objeto a mais, o de simulação, que não apareceu na analise feita pelo segundo participante. A segunda discrepância a ser notada são as porcentagens dos tipos de objetos que aparecem em comum aos dois gráficos. Para o primeiro existiu um maior numero de objetos classificados como prático e modelo conceitual do que para o segundo participante. Já este, fez uma análise classificativa onde apareceu um maior número de objetos de informação e de apresentação que o primeiro participante.
O surgimento dessas discrepâncias aconteceu devido ao fato das classificações terem sido feitas separadamente, onde cada participante interpretou de um modo particular a classificação definida por Churchill, sendo então necessário um consenso, intermediada pelo orientador desse trabalho, para se chegar a uma classificação definitiva dos objetos de aprendizagem disponíveis nos repositórios estudados. A seguir é apresentado o gráfico unificado as duas classificações.


Figura 8: Classificação geral dos OA´s em repositórios brasileiros.

Observando o gráfico acima, pode-se notar que a grande maioria dos objetos apresentados nos repositórios são do tipo apresentação e do tipo prático correspondendo a 94% do total. Uma das explicações plausíveis para esse fato é que o desenvolvimento desses dois tipos de objetos são os que exigem um menor conhecimento dos recursos da informática, por eles serem mais simples e terem uma menor interatividade com o aluno do que os demais tipos.
Outro ponto a ser considerado é que o LabVirt apresenta um maior número de objetos de aprendizagem que o Portal do Professor, logo a maioria dos objetos classificados é advinda desse repositório. Como o objetivo principal do Labvirt é a produção de objetos de aprendizagem com a participação de alunos para a elaboração desse material didático, o interesse do repositório é a criação dos objetos para estimular a aprendizagem dos alunos sobre o desenvolvimento de softwares, o que torna todos os objetos feitos no LabVirt bastante simples e com poucos recursos, o que justifica o maior número dos objetos de tipos apresentação e prático na classificação final.
Apesar dos objetos de apresentação serem os mais simples, a maioria dos objetos classificados foram de caráter prático. Isso ocorreu porque na definição de objetos práticos, aparece que qualquer interatividade a mais com o usuário o classifica nessa categoria. Como a maioria dos objetos do LabVirt apresentava um pequeno jogo de perguntas e respostas, isso gerou uma diferenciação destes objetos em relação a outros que não apresentava esse recurso, logo eles foram classificados como prático.
Outras classificações, além destas supracitadas, apareceram nos objetos do Portal do Professor, pois este repositório tem uma finalidade diferente do Labvirt, já que ao acessar o objeto ele apresenta guias para o professor de como usar o recurso em sala de aula. Ocorre também que este repositório é uma coleção de objetos de vários outros repositórios, uma vez que, eles não criam os objetos e sim apenas os armazenam, além da postagem desses objetos poder ser feitas por pessoas que os desenvolvam, para isso só é preciso submetê-los a aprovação da equipe responsável pela manutenção do portal.
A análise dos gráficos obtidos a partir das classificações dos objetos contidos nos repositórios brasileiros mostrou uma pequena diversidade dos recursos ali encontrados. Buscando-se ampliar a qualidade dos objetos de aprendizagem analisados, fomos buscar as simulações interativas, traduzidos para o português, de um exemplar programa para o ensino de ciências, o PhET (Physics Education Technology; phet.colorado.edu/simulations/translations.php#pt) da Universidade do Colorado. Foram classificados mais 18 objetos e os novos dados foram inseridos no gráfico anterior e o resultado pode ser visto na figura abaixo.


Figura 9: Classificação geral dos OA´s, com o repositório PhET.
Analisando o novo gráfico obtido, pode-se observar que nas categorias: informação, apresentação e prático, ocorreram uma diminuição a porcentagem desses objetos enquanto o tipo modelo conceitual e principalmente a simulação tiveram um aumento na quantidade.
Através dos dados obtidos é possível notar que o repositório internacional apresenta objetos com uma maior sofisticação com relação aos recursos informáticos uma vez que apresentam categorias de objetos que exigem mais conhecimento nessa área. Essa observação foi feita também quando os objetos foram utilizados, já que apresentavam uma maior variedade de opções para a aprendizagem do usuário.
Esse repositório apresentou também uma diversidade de objetos diferenciada, em relação ao LabVirt e ao Portal do Professor, pois em poucos objetos eram possível observar várias categorias como prático, apresentação, simulação e modelo conceitual.
Com isso pode-se concluir que apesar dos repositórios brasileiros serem mais acessíveis, objetos de outras fontes internacionais também podem ser interessantes para ser utilizado no ensino de química, já que podem apresentar um nível maior de elaboração.
Como dito anteriormente, existem muitos problemas na criação dos objetos de aprendizagem, o que reflete em objetos problemáticos. Entretanto quando eles são feitos de maneira adequada, funcionam como grandes recursos didático para o auxílio no ensino de química.

DISCUSSÃO ACERCA DOS OBJETOS:
A seguir foram selecionados cinco objetos que estão disponíveis nos repositórios, com o objetivo de apresentar um recorte de análise crítica dos objetos de aprendizagem disponíveis na rede que vimos desenvolvendo.

Pilha de Daniel
O objeto pilha de Daniel, que pode ser visto na Figura 3, é um recurso que pode ser interessante, para ser usado na sala de aula, uma vez que, ele simula uma situação real, porém idealizada (ou seja, não apresenta os erros que poderiam ser comum no experimento) sobre a prática de oxirredução que cerca a pilha de Daniel.
Entretanto ao se usar o objeto, podemos perceber que ele se torna incompleto em alguns sentidos, uma vez que no guia do professor ele afirma que o objeto desenvolve competências como compreensão da produção e o uso de energia em diferentes fenômenos e processos químicos, bem como a interpretação fazendo uso de modelos explicativos. Porém, a apresentação dele é extremamente superficial, sendo difícil o aluno fazer uma associação da utilização de energias para os diferentes fenômenos e processos. Ocorre também que apesar de afirmar que um dos pré-requisitos seja compreender as equações de semi-reação ele não mostra as equações (mesmo sem explicá-las) para uma melhor compreensão do que esta ocorrendo, o que torna um ponto fraco no objeto. Esse ponto também aparece na questão da avaliação proposta pelo guia ao qual utiliza os conhecimentos de semi-reação e reação global.
Outro ponto a ser considerado é que não se pode manipular e nem se tem uma visualização clara da ponte salina, já que ela parece não ser preenchida. Essa falta de manipulação impede o aluno de responder a pergunta apontada como questão de auxilio: “para que serve a ponte salina?”. Esse é apenas um exemplo do impedimento causado pelas visualizações faltosas.
Existe também um objetivo que é identificar a produção de energia térmica e elétrica em diferentes reações químicas. No objeto fica difícil ou impossível fazer essa identificação sem as devidas representações.
Esses problemas de visualização/manipulação não são isolados, eles ocorrem em muitos outros objetos disponíveis nos repositórios brasileiros e são reflexos da criação do objeto onde não houve um melhor acompanhamento das questões do conhecimento químico acerca do assunto. Talvez uma revisão para analisar se os objetivos foram atingidos e se não seria necessário suprir a falta que ocorre no objeto, no que se refere a detalhes do conteúdo químico.
Entretanto este é um objeto que pode ser bom para o auxilio do ensino, contanto que o professor preencha as lacunas encontradas no material no momento de acompanhar a utilização deste pelos alunos.

Show da química
O “Show da química” é um objeto prático bastante simples, que atinge o objetivo proposto, que é apenas testar o conhecimento dos alunos acerca da teoria dos gases (www.labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/quimica/sim_qui_showdaquimica.htm).
Esse tipo de objeto é bastante comum e pode ser interessante como um modo de entretenimento e de avaliação dos conhecimentos dos alunos sobre um determinado conteúdo, uma vez que ele é quiz de perguntas e respostas, com um tempo limitado, que é indicada a pontuação de acordo com as respostas corretas.
Entretanto por esse tipo de objeto ser bastante simplificado, ele acaba caindo em um dos erros citados anteriormente, que é não aproveitar o melhor uso dos recursos disponíveis. A comunicação com a área de informática e com a área pedagógica, por exemplo, tanto nesse caso como em muitos outros, foi falha e o objeto não apresentou recursos mais interessantes que gerassem um ambiente de aprendizado com maior interatividade. Essa falta de comunicação pode ocorrer por diversos motivos, desde o objetivo do uso do objeto (caso ele não tenha sido criado pensando em ser usado como material em uma aula) até a falta de recursos financeiros para contratar algum especialista na área de programação ou um mais adequado suporte didático-pedagógico.


Figura 10 – Outro exemplo de objeto prático. Figura 11 – Objeto de aprendizagem acerca das soluções químicas.

Além disso, nesse objeto as perguntas acabam sendo muito simples e superficiais, não exigindo um raciocínio mais elaborado do aluno sobre o conteúdo, o que torna uma avaliação muito memorística. O objeto, também, poderia apresentar um pouco mais de informação antes desse quiz como, por exemplo, alguns aspectos históricos ou algumas figuras para prender mais a atenção dos alunos no conteúdo a ser ensinado. Caso essas questões estivessem presentes, uma critica que poderia ser feita é que o objeto conteria muita coisa pra ler. Essa critica poderia ser contornada se o OA apresentasse hiperlinks para essa informação. Assim os alunos leriam apenas o que necessitassem ou o que lhes causassem curiosidade.
A mesma crítica pode ser aplicada em diversos outros objetos disponíveis na rede.

Soluções
O objeto Soluções (portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=1343) , é bastante interessante para a prática do conteúdo de soluções, pois proporciona uma boa interatividade com o aluno, onde ele tem que pensar e fazer cálculos para, assim, pesar a quantidade certa de soluto e então preparar a solução na concentração adequada, conforme o roteiro da prática. A parte visual do objeto é, também, adequada e agradável. O guia da atividade que acompanha o objeto é um bom material de apoio ao professor, apesar de apresentar algumas questões que parecem um pouco distantes para o aluno relacionar com o contexto abordado.
Entretanto o objeto apresenta falhas no conteúdo que pode ter sido fruto de uma falta de revisão na elaboração do material. Por exemplo, em alguns cálculos é preparado a solução que o roteiro pede, porém o objeto diz que o usuário preparou uma solução errada, como é na preparação de 500 mL da solução de NaCl 0,5 g/L. Essas são falhas contornáveis é só o professor ficar atento na utilização do objeto e dar as orientações adequadas para os alunos não se perderem. O fato dessa falta de revisão ocorrer pode indicar que os objetos, muitas vezes, são feitos apressadamente, acabando por priorizar a quantidade e não a qualidade.

Meu carro parou, e agora?
Esse é outro objeto (www.labvirtq.fe.usp.br/applet.asp?lom=10769) que pode exemplificar uma das falhas sobre a criação dos objetos de aprendizagem, citadas anteriormente, a falta de um maior aproveitamento dos potenciais recursos da informática. O material apresenta o conteúdo de miscibilidade no contexto da gasolina adulterada, onde o álcool se mistura preferencialmente a água do que a gasolina. O objeto deixa a desejar, pois não aprofunda o conteúdo, apenas mostra o cálculo que envolve os testes de gasolina adulterada e explica superficialmente o porquê do teste, mas não explica os motivos do álcool se dissolver mais na água do que na gasolina, em termos microscópicos, as questões das interações, etc.
O objeto, também, por ser apenas uma seqüência de lâminas que apresentam um diálogo entre o motorista e o mecânico, conforme a Figura 12, que torna o objeto monótono e com muito pouca interatividade com o aluno, o que pode ser um indício de que faltou uma maior comunicação entre as áreas de química e os responsáveis pela programação do objeto.


Figura 12 – Um objeto de aprendizagem sobre a adulteração da gasolina. Figura 13 – Objeto escala de pH.


Escala de pH
“Escala de pH” (http://phet.colorado.edu/sims/ph-scale/ph-scale_pt_BR.jnlp), mostrado na figura 13, é um excelente objeto de aprendizagem para a utilização junto com o ensino dessa medida, uma vez que nele podemos fazer testes da variação de pH em diversos líquidos, além de ser possível visualizar de diversas maneiras como ocorre essa variação, como por exemplo, a contagem das partículas em diferentes escalas. Entretanto o objeto se tornaria mais interessante se tivesse mais algumas abordagens, como a presença de alguns textos sobre o assunto. A presença de de gráficos, também, enriqueceria o objeto, que foi classificado como um exemplo de modelo conceitual. Um ponto falho é quando apresenta a visualização das partículas no líquido, ele apresenta as partículas paradas o que pode causar uma falsa impressão no aluno.
Esses pequenos detalhes têm que ser visto com cuidado na criação dos objetos de aprendizagem, pois ao invés de gerar um aprendizado pode acarretar na formação de conceitos errôneos ou distorcidos na cabeça do aluno.

CONCLUSÃO:
A inserção dos objetos de aprendizagem na rede está aumentando cada vez mais. Entretanto ao se traçar o perfil dos repositórios brasileiros que contém esses objetos, pode-se notar que, apesar da grande quantidade de objetos, nem todos se apresentam de modo satisfatório para serem utilizados em sala de aula. Contrariamente, o repositório das simulações interativas do grupo PhET apresenta um menor número de objetos, porém com uma qualidade muito superior aos objetos de aprendizagem de química produzidos no Brasil.
Os repositórios brasileiros, também, apresentam pouquíssima variedade em relação aos tipos de objetos de aprendizagem, o que demonstra uma falta de articulação de experiências, entre profissionais da área da programação trabalhando em conjunto com outras áreas para elaborar materiais com mais recursos e maior interatividade para o aluno.
Esse trabalho terá prosseguimento com a utilização dos objetos de aprendizagem selecionados em atividades didáticas nas escolas públicas participantes do PIBID/UFBA. Nesse sentido, pretendemos em uma próxima ocasião, apresentar os resultados sobre a utilização dos objetos de aprendizagem nas realidades de escola com a qual nos deparamos no contexto desse programas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CHURCHILL, D. Toward a userful classification of learning objects. Educational Technology Research and Development. v. 55, n. 5, p. 479-497, oct. 2007
CIRINO, M.M.; SOUZA, A.R. Objetos de aprendizagem como ferramenta instrucional para professores de química no ensino médio. Em: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, Florianópolis, novembro de 2009.
EICHLER, M., DEL PINO, J. C. Computadores em educação química: estrutura atômica e tabela periódica. Química nova, São Paulo, 23(6) (2000), p835-840.
MELEIRO, A. e GIORDAN, M. Hipermídia no Ensino de Modelos Atômicos. Química nova na escola, São Paulo, N° 10, p17-20, Novembro 1999.
NASCIMENTO, A. C. A. Objetos de aprendizagem: A distância entre a promessa e a realidade, Objetos de aprendizagem: Uma proposta de recurso pedagógico, Brasília, p.135-145, 2007
SANTOS, L. M. A., FLORES, M. L. P., TAROUCO, L. M. R.: Objetos de aprendizagem: Teoria apoiada por computador. Novas Tecnologias na Educação, CINTED-UFRGS, Porto Alegre, V. 6, Nº 2, Dezembro 2007.
TAROUCO, L. M. R; DUTRA, R. Padrões e interoperabilidade, Objetos de aprendizagem: Uma proposta de recurso pedagógico, Brasília, p.81-92, 2007.
VINHA, M.L. Criatividade em ação: roteiros de animações virtuais elaborados por alunos de ensino médio em Física. Tese de Doutorado (Faculdade de Educação), USP, 2007.
WHISNANT, D.M. Scientific exploration with a microcomputer: simulations for nonscientists. Journal of Chemical Education, 61, p. 627-629, 184.


17 de fevereiro de 2011

Improvisações Teatrais para o Ensino de Química

Hélio da Silva Messeder Neto, Bárbara Carine Soares Pinheiro, Nídia Franca Roque


Introdução
Despertar o interesse do aluno para o aprendizado de química no ensino médio vem sendo um dos desafios encontrados pelos professores em sala de aula. Entretanto o não interesse pela química pode estar relacionado à forma como essa ciência vem sendo tratada na maioria das escolas: de forma estanque, desestimulante e descontextualizada (CHASSOT, 2003)
Desta forma verifica-se a necessidade de utilização de formas alternativas relacionadas ao ensino de química, que tenham como objetivo despertar o interesse do aluno por essa ciência, bem como torná-la mais significativa para a vivência do estudante.
O jogo vem sendo uma alternativa lúdica para dar a química a nova “roupagem” que ela precisa, já que o uso de atividades lúdicas na escola favorece o aprendizado pelo erro, e estimula a exploração e resolução de problemas (KISHIMOTO,1996). Dentro da área de ludicidade podemos dar destaque aos jogos teatrais, já que estes trabalham com o potencial interpretativo que todas as pessoas possuem, além de que, com estes jogos, as pessoas aprendem a partir da experiência, envolvendo-se em todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo (BOAL, 2005)
Para Celva e Bougard (2006), citado por Batista e colaboradores (2009), o jogo teatral pode desempenhar um papel poderoso no processo de ensino e aprendizagem. O teatro permite que os jovens encontrem o seu lugar num projeto, que se sintam compreendidos e reconhecidos, independentemente do seu percurso escolar. Mas tem também outra faceta: ensina a viver e a trabalhar em conjunto com o seu semelhante, a respeitar os outros.
O jogo teatral traz em si mesmo algumas características que são comuns a todos os jogos. Huizinga (1980) apresenta como primeira característica do jogo o fato dele ser livre, de ser ele próprio liberdade. Do ponto de vista educacional o aluno deve aceitar a idéia que foi proposta pelo professor, caso contrário deixa de ser jogo podendo ser no máximo uma imitação forçada(HUIZINGA, 1980) . O primeiro passo para jogar é sentir liberdade pessoal. Antes e durante o jogo, devemos estar livres. É necessário ser parte do mundo que nos circunda e torná-lo real tocando, vendo, sentindo o seu sabor, e o seu aroma [...]. A liberdade pessoal [...] leva- nos a experimentar e adquirir autoconsciência (auto-identidade) e auto-expressão (SPOLIN, 1998)


A segunda característica apontada por Huizinga (1980) para o jogo é que este não é vida real, pelo contrário, trata-se de uma evasão da vida real, uma ilusão (palavra que significa literalmente em jogo). O fato do jogo permitir essa evasão da vida real permite que na escola o aluno não tenha medo de se expor e nem medo de errar (KOUDELA, 2004), isto contribui para um criar um ambiente adequado de aprendizagem na sala de aula.
A terceira característica importante é que todo jogo tem suas regras (HUIZINGA, 1980) são estas que dizem o que “vale” dentro do mundo da ilusão. Mas se avaliarmos a primeira e a terceira característica elas parecem antagônicas, como pode o jogador ser livre e ao mesmo tempo ter que respeitar regras? Quem consegue responder essa questão é Viola Spolin (1998) quando diz que:
... O jogador é livre para alcançar seu objetivo da maneira que escolher. Desde que obedeça as regras do jogo, ele pode balançar ficar de ponta a cabeça e até voar. ( SPOLIN,1998)
É essa liberdade dentro de regras que permite que o jogo aconteça, estimule a criatividade, e ensine à criança a respeitar limites, já que a resolução das situações do jogo só pode acontecer se as regras forem respeitadas.
Finalmente, como última característica, temos que todo jogo acontece em um determinado tempo (o jogo começa e acaba) e espaço limitado (um tabuleiro, um campo de futebol, uma página na internet ou uma sala de aula).
O jogo inicia-se e, em determinado momento, “acabou”. Joga-se até que se chegue a um certo fim [...]. O jogo acaba: O apito do árbrito quebra o feitiço e a vida real recomeça. (HUIZINGA, 1980
Além das características intrínsecas, o jogo teatral também tem suas peculiaridades. A prática dos jogos teatrais inclui um acordo grupal entre os participantes, para tal o grupo se divide entre atores (participantes da cena) e platéia (observadores). A estrutura do jogo é geralmente determinada pelos seguintes aspectos: onde (ambiente no qual se passa a ação), quem (os personagens) e o quê ou como (ações dos personagens) (NEVES; SANTIAGO, 2009).
Neves e Santiago (2009) apontam que outra característica dos jogos teatrais é que estes se desenvolvem na ação improvisada e os papéis de cada jogador não são conhecidos a priori.
Os jogos teatrais permitem o desenvolvimento de habilidades corporais favorecendo a consciência do próprio corpo, concentração e observação (NEVES; SANTIAGO,2009) habilidades essas importantes para o desenvolvimento de competências e habilidades dos estudantes
Em Kishimoto (2002) encontra-se um texto de Maria Nazaré Amaral no qual ela mostra como Dewey defende a aplicação dos jogos teatrais na educação:

(...) as possibilidades oferecidas pelos jogos ou representações teatrais são infindáveis, pois para o autor (Dewey), é sempre possível encontrar um assunto que oferecerá as crianças oportunidade de desenvolver muito melhor o aprendizado da leitura, escrita, História, Literatura, Geografia do que através da rotina dos livros didáticos. Este é simplesmente um outro modo de dizer que “learning by doing” é um modo melhor de aprender, do que apenas ouvindo, uma vez que a criança reconstrói mental e fisicamente experiências que se revelaram importantes para a humanidade e desenvolve, além disso, padrões mais eficientes de julgamento, comparação e crença. (DEWEY,1961 apud KISHIMOTO,2002)
.
Dewey aponta as vantagens do uso dos jogos teatrais para ciências humanas, acredito que essas vantagens podem se estender para o ensino de ciências exatas, em especial a química, uma vez que aprender fazendo (experimentando) se constitui uma forma importante de se aprender qualquer ciência.
No âmbito dos jogos teatrais podemos dar destaque a uma autora que trabalha com um tipo específico de jogo teatral, as chamadas Improvisações teatrais, por sua metodologia de trabalho ser bem detalhada e de fácil aplicação ela foi adaptada para o ensino de química. Para que essa adaptação fique clara faz-se necessário então conhecer, primeiramente, como essa autora trabalha.

Viola Spolin e as Improvisações Teatrais
A metodologia de Viola Spolin (1998) visa a solução de um problema proposto pelo professor através de improvisações teatrais (cenas idealizadas e apresentadas em poucos minutos) .
Viola Spoin (1998) justifica que pela técnica de solução de problemas o professor consegue avaliar melhor o aluno, já que só precisa verificar se o problema foi ou não resolvido na cena improvisada.
A técnica de solução de problemas usada nas oficinas de trabalho dá um foco objetivo mútuo ao professor e ao aluno. Em palavras simples, isto significa dar problemas para solucionar problemas. Ela elimina a necessidade de o professor analisar, intelectualizar, dissecar o trabalho de um aluno com critérios pessoais. Isto elimina a necessidade de o aluno ter que passar pelo professor, e o professor ter que passar pelo aluno para aprender. Ela proporciona a ambos o contato direto com o material, desse modo desenvolvendo o relacionamento ao invés da dependência entre os dois. Ela torna a experiência possível e suaviza para que o caminho para que pessoas de formação diferentes trabalhem juntas. (SPOLIN,1998)
Para que a metodologia de resolução de problemas fique bem clara para os alunos e professores Viola Spolin (1998) introduz um termo chamado Foco ou Ponto de Concentração que nada mais é que a idéia que deve ser trabalhada e transmitida para a platéia durante a improvisação (ROQUE, 2007).
Neste caso o Foco age como uma regra dentro do qual o jogador deve trabalhar (Spolin,1998), ele pode encenar o que ele quiser desde de que a idéia solicitada pelo professor seja transmitida para a platéia.
As improvisações na sala de aula podem ser feitas em grupo ou individualmente e deve haver sempre a alternância entre atores (jogadores) e platéia (observadores).
Segundo Spolin(1998) nesta metodologia o professor tem o papel de apresentar o problema de atuação de uma forma simples e rápida, em alguns casos pode-se dar um exemplo, entretanto o professor não deve dizer como o problema deve ser resolvido, o como deve surgir das relações entre os jogadores e do modo que estes se relacionam com a situação proposta.
A avaliação das improvisações é feita pela platéia e pelo professor, neste caso ambos assumem um papel ativo e devem observar atentamente a cena em função do Foco (KOUDELA, 2004). É importante que esta avaliação seja objetiva e em função do Ponto de Concentração, sendo assim, não se trata de dizer se a cena foi boa ou ruim e sim se a idéia foi ou não transmitida. A avaliação deve girar em torno da solução de um problema de atuação e não do desempenho de uma cena. (KOUDELA, 2004).

Química Entra em Cena: Adaptando o Trabalho de Viola Spolin.
Antes de entrar propriamente nas adaptações da metodologia é conveniente classificar as improvisações teatrais para o ensino de química em dois grupos:
a) Improvisações Pictóricas: Neste caso os alunos fazem a cena, representando, eles próprios, os constituintes da matéria, ou seja, as partículas (átomos, íons e moléculas). Isto pode ser feito, por exemplo, se o professor pedir para os alunos encenarem como se dá a mudança de estado físico no nível atômico.
b) Improvisações Situacionais: Neste tipo de improvisação o professor propõe situações ou problemas do cotidiano que devem ser resolvidos a luz dos conhecimentos químicos do estudante.
No caso das improvisações pictóricas, é claro o uso de analogias nas encenações, entretanto o uso de analogias para o ensino de ciências ainda é questionável (MORTIMER, 2000). Duit (apud MORTIMER, 2000) aponta problemas no uso destas, principalmente porque os estudantes podem se prender a aspectos superficiais que conduzem a generalização de concepções inadequadas.
Claparéde (1950) citado por Mortimer (2000) confirma o que foi dito anteriormente ao afirmar que:
o pensamento por analogia, que supõe a verificação de semelhanças entre objetos ou entre sentimentos por eles suscitados, é a mais primitiva das formas de pensamento; conduz, na maioria dos casos, a erros provenientes de não se perceberem diferenças que seria necessário levar em conta. (CLAPARÈDE,1950 apud MORTIMER, 2000).
Em química, estas improvisações pictóricas podem constituir um obstáculo maior a aprendizagem de conceitos, pois o aluno ao se “colocar no lugar” da partícula dá uma concretude muito grande a algo que ultrapassa a dimensão do observável, ele torna tangível algo que explica a realidade, mas não faz parte dela.
Acredito que o uso de analogia, através das improvisações pictóricas, pouco contribua para o desenvolvimento cognitivo dos alunos e ajude muito pouco na construção de uma visão científica da realidade.
O problema de se usar uma analogia como alternativa a explicitação de idéias prévias, na crença de que esse processo levará à superação de pré-concepções, é que estaremos usando as mesmas armas do inimigo que se quer derrotar. É importante usar armas mais avançadas, que ajudem o aluno a derrotar os obstáculos que impedem a construção de novas idéias e, ao mesmo tempo, sejam úteis em lutas futuras. (MORTIMER, 2000).
Diante do que foi explicitado anteriormente sobre analogias, neste trabalho só serão utilizadas as improvisações situacionais, e é para estas que a metodologia de Viola Spolin (1998) será adaptada. Este tipo de improvisação pode ser usado como recurso didático para avaliação de aprendizagem ou para o levantamento de concepções prévias dos estudantes.
Nas improvisações situacionais para avaliação da aprendizagem, a estrutura da improvisação teatral proposta por Spolin (1998) se mantêm, assim, continuam existindo grupos que se alternam entre jogadores e platéia e tanto o professor como os observadores continuam sendo responsáveis pela avaliação.
O conceito de Foco continua sendo essencialmente a mesmo, idéia a ser transmitida para platéia, entretanto a situação problema agora envolve conhecimentos de química e a linguagem científica deve ser usada nas encenações.
A avaliação continua sendo feita em relação ao foco e não a qualidade da cena, só que desta vez o professor tem mais liberdade para corrigir os conceitos equivocados (e deve fazer isso), e também, deve após as apresentações iniciar uma discussão com o grupo inteiro sobre a apresentação que foi feita. É importante que as discussões depois das apresentações sirvam para que o professor retome alguns pontos do conteúdo que está sendo estudado, que não ficaram claros para os estudantes. O professor perceberá que pontos são esses, ao verificar as dificuldades que os estudantes terão para resolver o problema cênico proposto.
A escolha da situação-problema a ser encenada, também requer cuidado especial ao ser selecionada pelo professor, pois é através dela que o estudante poderá mostrar se aprendeu e se sabe explicar o conhecimento transmitido na sala. A situação problema deve ser desafiadora, mas deve estar dentro da zona de desenvolvimento proximal do aluno (NEVES; SANTIAGO, 2009).
É importante neste tipo de metodologia que o professor trabalhe com grupos pequenos e no momento em que a cena estiver sendo elaborada ele transite entre os grupos vendo a participação de cada aluno na construção da cena e para depois discutir os conceitos que serão apresentados por eles.
É fundamental também que o professor questione os alunos que na cena não trabalharam com o Foco (ficaram apenas compondo a apresentação) e, portanto, desviaram-se da discussão do conteúdo.
No caso das improvisações situacionais serem utilizadas para o levantamento de concepções prévias dos alunos, o professor apenas toma nota do que o grupo apresentou sobre aquele determinado conteúdo. A platéia neste caso fica restrita apenas a avaliar se entendeu a idéia que os alunos transmitiram. É importante que neste momento não haja censura e o professor observe tudo que os alunos apresentaram para que possa usar o que eles sabem no momento que trabalhar o conteúdo. Essa forma de abordagem da a oportunidade de o professor começar a discussão do conteúdo a partir dos conhecimentos dos alunos (ROQUE, 2007).



Vigotsky e o Jogo Teatral
Por acreditar que o jogo teatral é uma atividade social e sofre sim influências histórico-culturais, se usará neste trabalho como referencial psicológico de aprendizagem a perspectiva histórico-cultural que surge a partir de estudos realizados pelo soviético Lev Semyonovich Vigotsky (SCALCON, 2002). Neste trabalho não se tem a pretensão de descrever todos os elementos da complexa teoria elaborada por Vigotsky, busca-se apenas destacar alguns aspectos que tem relação com o jogo teatral. Vigotsky estudou as formas mais complexas de consciência, tendo como base o materialismo histórico-dialético. Para Vigotsky os processos psicológicos superiores do homem tem origem cultural, histórica e social (BAQUERO, 1998).
Vigotsky (1926 apud BAQUERO, 1998, p.23) trouxe aspectos dos problemas pedagógicos para dentro das questões psicológicas:
O problema educativo [...] ocupa um lugar central na nova maneira de enfocar a psique do homem. Daí que a nova psicologia seja um fundamento para educação em muito maior medida que era a psicologia tradicional [...] O novo sistema não terá que se esforçar para extrair de suas leis as derivações pedagógicas nem adaptar suas teses à aplicação prática da escola, porque a solução do problema pedagógico está contida em seu próprio núcleo teórico, e a educação é a primeira palavra que menciona. Portanto, a própria relação entre psicologia e pedagogia mudará consideravelmente, sobretudo porque aumentará a importância que cada uma tem para outra e se desenvolverão, portanto, laços e o apoio mútuo entre ambas as ciências.
Considerando esse laço intrínseco entre a pedagogia e a psicologia de Vigotsky, algumas características da sua teoria têm rebatimento direto nas práticas educativas. A característica central que se destaca na teoria de Vygotsky, e que é muito utilizada pela pedagogia é a chamada Zona de Desenvolvimento Proximal ZDP), que é definida como:
a distância entre o nível de desenvolvimento determinado pela capacidade de resolver um problema e o nível de desenvolvimento potencial determinado através da solução de um problema sob a ajuda de um adulto ou em colaboração com outro colega mais capaz ( VIGOTSKY, 1989 apud NÚÑEZ, 2009, p. 30)
Ainda nas palavras de Vigotsky podemos verificar como a ZDP está relacionada com a aprendizagem:
Postulamos que o cria a ZDP é um traço essencial da aprendizagem; quer dizer, a aprendizagem desperta uma série de processos evolutivos internos capazes de operar apenas quando a criança está em interação com as pessoas de seu meio e em cooperação com algum semelhante. (VIGOTSKY, 1988 apud BAQUERO, 1998).
Vigostsky fez estudos a respeito de elementos que podiam mediar o desenvolvimento da criança na educação e atuar na Zona de Desenvolvimento Proximal do estudante, o jogo foi um dos elementos estudados por Vigotsky que segundo ele pode contribuir para o desenvolvimento de funções cognitivas.
No, jogo a criança está sempre mais além do que sua média de idade, mais além do que seu comportamento cotidiano [...] O jogo contém, de uma forma condensada, como se estivesse sob o foco de uma lente poderosa, todas as tendências do desenvolvimento; a criança, no jogo, é como se se esforçasse para realizar um salto acima do nível do seu comportamento habitual. (VIGOTSKY, 1988 apud VEER e VALSINER 2001, p.12)
Apesar de mencionar diversas modalidades de jogos no desenvolvimento da criança, Vigotsky dedica-se mais a contribuição dos jogos teatrais (ou brincadeiras de “faz-de-conta”) para a aprendizagem, pois ele acredita que ao atuar no mundo imaginário onde existe a presença de regras cria-se na criança uma Zona de Desenvolvimento Proximal que contribui para formação de Processos Psicológicos Superiores. (SCALCON, 2002)
Elkonim, em seus estudos sobre jogos, tendo como base as formulações teóricas de Vigotsky, trouxe outro aspecto importante para os jogos teatrais, quando afirma que nestes jogos a interação predominante é a relação homem-homem, ou seja o que importa neste jogo é a relação com outras pessoas.
O fundamento do jogo protagonizado [...] não é o objeto, nem seu uso, nem a mudança de objeto que o homem possa fazer, mas acima de tudo as relações que as pessoas estabelecem mediante suas ações com os objetos, não é a relação homem-objeto mas a relação homem-homem ( ELKONIN, 1980 apud KISHIMOTO, 2002)
Do ponto de vista pedagógico, numa atividade planejada de ensino, onde se usa o trabalho em grupo como recurso pedagógico, essa interação homem-homem é muito importante já que pode gerar aprendizagem, pois os estudantes na sala de aula possuem níveis atuais de desenvolvimento diferentes e é possível que nesta interação de níveis diferentes produza-se desenvolvimento no aluno menos capaz (BAQUERO, 2004). As improvisações teatrais situacionais, foco deste trabalho, utilizam-se de atividades em grupo por acreditar que estas contribuem para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do aluno.
Ainda como uma das implicações pedagógicas da psicologia histórico- cultural ressalto o destaque que essa teoria dá ao papel do professor no processo de ensino e aprendizagem que nesta perspectiva tem o papel estritamente relacionado ao dispositivo de suporte. Entende-se por suporte “uma interação entre um sujeito especializado, e outro menos especializado, na qual o formato de interação tem por objetivo a apropriação do saber pelo sujeito menos especializado” (BAQUERO, 1998, p. 104)
O professor, que neste caso é o sujeito especializado, é capaz de criar Zonas de Desenvolvimento Proximal no estudante, nesse sentido o docente é capaz fornecer pistas, guiando, persuadindo e corrigindo os pensamentos e estratégias dos alunos. (BAQUERO, 2004)
As discussões que ocorrem depois da apresentação das improvisações teatrais situacionais, quando estas são usadas para avaliação de aprendizagem, permitem que o docente exerça seu papel mediador do conhecimento científico promovendo no educando uma mudança cognitiva. Através dessas discussões o professor pode verificar o nível atual de desenvolvimento do aluno e, além disso, corrigir os pensamentos que não foram apresentados corretamente.
O uso das improvisações teatrais situacionais como instrumento de avaliação de aprendizagem também apresenta outra vantagem, pois ele permite não apenas verificar o nível de desenvolvimento atual do aluno (através das discussões feitas após as apresentações) mas também é capaz de verificar o que o aluno consegue desenvolver em grupo (verificação feita no momento das apresentações das improvisações teatrais). Uma avaliação, que leva em consideração o nível atual do sujeito e suas potencialidades também é defendida por Vigotsky na seguinte metáfora:
[...] um jardineiro que, para definir, todo o estado do jardim, não pode resolver avaliá-lo apenas pelas macieiras que já amadureceram e deram frutos, mas deve considerar também as árvores em maturação, o psicólogo [também o professor] que avalia o estado de desenvolvimento também deve levar em conta não só as funções já maduras mas aquelas em maturação, não só o nível atual mas também a função de desenvolvimento proximal. (VIGOTSKY, 2001 apud GASPARIN, 2007)
Como foi dito anteriormente as improvisações teatrais também podem ser utilizadas para o levantamento de concepções prévias, essa idéia de conhecer o que o aluno sabe também pode ser defendida usando as idéias de Vigotsky:
Em essência a escola nunca começa no vazio. Toda a aprendizagem com que a criança depara na escola sempre tem uma pré- história. [...] a aprendizagem escolar nunca começa no vazio mas sempre se baseia em determinado estágio de desenvolvimento percorrido pela criança... (VIGOTSKY, 2001 apud GASPARIN, 2007, p. 18)
Ouvir os alunos possibilita o professor tornar-se um companheiro, gera confiança e possibilita também que a relação entre educador e educando caminhe no sentido da superação da contradição de concepções que existem entre eles (GASPARIN, 2007). Ouvir o aluno através das improvisações teatrais pode vir a tornar esse processo de aproximação entre educando e educador muito mais prazeroso.
Apesar de acreditar que as improvisações teatrais situacionais contribuam para a aprendizagem de conceitos científicos, acredita-se que a aprendizagem é intrapessoal, pois depende da ação do sujeito sobre o objeto e deste objeto sobre o sujeito. (GASPARIN, 2007). Segundo Vigotsky (1989 apud Gasparin 2007, p.52) ,“os conceitos não-espontâneos não são aprendidos mecanicamente, mas evoluem com ajuda de uma vigorosa atividade mental por parte da própria criança.”
A aprendizagem só é real quando o aluno incorpora o objeto de conhecimento, tomando-o como “seu” e passa a ser capaz de estabelecer nexos e relações com este objeto que agora “possui”.
Em suma, as improvisações teatrais pode ser um aspecto motivador e instigante para que o aluno possa se apropriar dos conhecimentos científicos, entretanto pela aprendizagem se constituir no processo intrapessoal o educando só aprende se de fato quiser aprender, cabendo ao professor o papel de despertar no estudante a necessidade social de se apropriar dos conhecimentos científicos

Metodologia
O trabalho foi realizado com uma turma de 1º ano do turno matutino da escola estadual Manoel Devoto localizada na Rua Osvaldo Cruz, s/n , Bairro Rio Vermelho, Salvador, Bahia. A turma contem 40 alunos mas nos dias da atividade freqüentaram 26 . A atividade foi desenvolvida me 4 aulas de 50 minutos e o tema escolhido para discussão com os alunos foi: “o que é química”. As cadeiras em todas as aulas foram dispostas em círculo para que se pudesse utilizar o espaço da sala .
Neste trabalho utilizaram-se as improvisações teatrais para o levantamento de concepções prévias dos alunos sobre o tema e depois da mediação didática as improvisações foram refeitas buscando verificar se os conceitos novos foram incorporados pelos alunos.
A primeira aula teve como objetivo “acordar o corpo” para prepará-lo para as improvisações. Este processo aconteceu por meio de exercícios de alongamento, andar pela sala de aula (observar o espaço, focar objetos no espaço) e treinar expressões corporais e faciais ( medo, alegria e tristeza). Ainda nesta primeira aula foi discutido com os alunos s proposta das improvisações teatrais destacando os conceitos de Foco, Platéia e como é feita a avaliação das apresentações.
Também nesta 1ª aula trabalhou-se com algumas improvisações teatrais que ainda não tinham relação com o tema químico a ser discutido. O objetivo desta etapa é que os alunos se habituassem à idéia de transmitir um foco para turma, perdessem a vergonha e experimentassem, como se dava na prática, as improvisações teatrais. O Foco escolhido para eles encenarem foi “o que vocês estão comendo” onde eles tiveram que mostrar por meio de gestos que tipo de alimento eles estavam comendo.
A segunda aula foram feitas as improvisações teatrais para o levantamento de concepções prévias, para isso dividiu-se a sala em grupos de no máximo 5 alunos e estes encenaram sobre o que eles achavam que era química.
A 3ª aula fez-se uma exposição participada do que era a ciência química e como esta estava presente no cotidiano dos alunos. Na última aula as improvisações foram refeitas, como uma verificação de aprendizagem e ao fim da aula utilizou-se um questionário para saber o que os alunos acharam da proposta

Resultados e Discussões
O 1º dia de contato com a turma foi um tanto quanto difícil, houve uma resistência enorme por parte dos alunos para levantarem das cadeiras e fazerem os exercícios de alongamento e treinamento de expressões corporais. Mesmo explicando novamente a proposta os alunos recusaram-se inicialmente a participar do jogo teatral. Segundo Soares ( 2004) isto é característica de um processo de adultificação , no qual os adultos ou jovens envolvidos se sentem como crianças ao brincarem, como se não pudessem brincar por terem passado da infância.
Depois de uma grande insistência a maioria dos alunos levantou e fez o alongamento. Por uma das características intrínsecas do jogo, segundo Huizinga (1980) ser a liberdade, nenhum aluno foi obrigado a participar da atividade. No passo seguinte quando eles tiveram que encenar o que estavam comendo, a participação dos alunos foi efetiva e foi possível perceber que eles entenderam bem a metodologia, uma vez que os alunos que estavam encenando procuraram transmitir o foco para a platéia e esta ficou atenta as improvisações dos colegas.
Na aula seguinte, que tinha como objetivo o levantamento de concepções prévias, os alunos mostraram nas improvisações que química para eles estava diretamente ligada ao relacionamento, frases como: “E aí rolou uma química?” “Você e ele tiveram química?” foram muito comuns nas improvisações. Apesar de alguns alunos já terem visto a disciplina química no ano anterior, nenhum deles fez uma relação com algo que tinham apreendido.
Na aula seguinte foi feita uma exposição participada do tema o que é química, e a discussão partiu da concepção que eles tinham apresentado na aula anterior, o envolvimento dos alunos na discussão foi grande e ficou clara a necessidade de se conhecer a zona de desenvolvimento atual do aluno para se conseguir criar a zona de desenvolvimento proximal e levar o aluno ao desenvolvimento.
A aula de avaliação, onde eles tiveram que refazer as improvisações foi bem interessante, os alunos que participaram das improvisações mostraram que tinham entendido que a química é uma ciência que estuda as matérias e situações e foram capazes de colocar esses conceitos em situações do cotidiano que eles mesmos criaram.
As discussões quando as equipes estavam montando a cena também foram bem proveitosas uma vez que os alunos que tinham se apropriado melhor do tema explicavam aos outros alunos o que tinham aprendido. Isto é o que Forman e Cadzen ( 1985 apud BAQUERO, 1998) chama de interações entre pares, onde o mais capaz é capaz de fornecer uma informação que esteja dentro da zona de desenvolvimento do menos capaz, permitindo o desenvolvimento deste.
Por falta de tempo a discussão após a apresentação foram muito curtas e ficou restrito apenas ao professor que concertou alguns conceitos equivocados que apareceram nas improvisações.
Analise dos questionários sobre o que eles acharam da proposta das improvisações teatrais para o ensino de química, também traz alguns aspectos importantes passíveis de análise. O que alguns alunos escreveram pode ser visto a seguir, é importante ressaltar que não havia identificação do questionário e foi solicitado que escrevessem livremente o que acharam da proposta:
A1: “Eu achei legal, é muito massa teatro e química”

A2: “Achei boa, mesmo sem participar, porque nunca vi teatro com química em outra escola ou série”

A3: “É uma ótima forma de aprender química e se divertir”

A4: “Mudou a forma de dar aula, gostei da criatividade de em pouco tempo conseguir fazer uma peça”

A5: “Foi ótimo, eu gostei de ver os outros apresentando. É importante ser platéia

A6: “Eu achei interessante porque nós aprendeu a se comunicar através de gestos e mais importante sempre estava falando de química”

A7: “Eu gostei de me apresentar por que eu aprendi a não ter vergonha”

A8: “Eu gostei, mas não gostei de pagar mico”

A9: “ Eu achei bem legal, bem interessante, não apresentei mas da próxima eu gostaria muito de participar”

A10: “Foi bonzinho. Não gostei que ninguém bateu palma”

Como é possível perceber os alunos gostaram da proposta mesmo os que não participaram. O aluno A5 mostrou que entendeu o papel da platéia, mas usa esse entendimento para justificar sua não participação. As falas de A3 e A4 são muito importantes, pois vai ressaltar uma preocupação fundamental neste trabalho que é equilibrar a função lúdica (aprender teatro, gestos) e a função educativa (conteúdo de química). Segundo Soares (2004) o equilíbrio entre essas duas funções caracteriza o jogo educativo.
A idéia de “pagar mico” apontada por A8 confirma a idéia de adultificação de alguns adolescentes. A vergonha de apresentar diante dos colegas foi um obstáculo interessante que muitos conseguiram superar, como foi apresentado na fala de A7.
A4 também apresenta um ponto importante de se trabalhar com o teatro, que é o desenvolvimento da atividade do aluno, em pouco tempo eles conseguem elaborar uma cena e conseguem colocar o que sabem naquele momento.
A10 aponta uma falha do professor que não incentivou a turma a bater palma, o reconhecimento do trabalho dos alunos motiva-os a participar das atividades.

Conclusão
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo mostrar como é possível relacionar ciência e arte na sala de aula. Muitas dificuldades foram encontradas entre elas: tempo adequado para realização das atividades, resistência dos alunos por estarem acostumados a atividades passivas e a própria estrutura da escola. Entretanto entendemos que apesar das dificuldades o uso das improvisações teatrais como recurso metodológico é possível, e traz resultados satisfatórios. Esperamos que este trabalho ofereça ao professor mais um recurso metodológico que possa auxiliá-lo no sua prática pedagógica na sala de aula.
Não se trata de um tema esgotado, pois ainda há muito a fazer para que a relação entre arte, ciência e ludicidade seja feita de forma adequada para contribuir para aprendizagem do estudante.


Referências Bibliográficas
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HUINZIGA, J. Homo Ludens: O jogo como elemento de cultura. São Paulo: Perpectiva, 1980
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NEVES, R.N.; SANTIAGO, A.L.B. O Uso Dos Jogos Teatrais Na Educação: Possibilidades diante do fracasso escolar. São Paulo: Papirus, 2006
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ROQUE, N.F. Química por meio do Teatro. Química Nova na Escola, 25, 19-22, 2007
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VEER,R.; VALSINER, J. Vigotsky: uma síntese. 4.ed. São Paulo: Loyola, 2001

14 de fevereiro de 2011

XV ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA - XV ENEQ

No período de 21 a 24 de julho de 2010 ocorreu o XV Encontro Nacional de Ensino de Química - XV ENEQ, um evento bianual organizado pela Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química – ED/SBQ. Este ENEQ foi especial, pois estávamos comemorando neste evento os 50 anos da fundação da cidade de Brasílica, os 15 anos da Revista Química Nova na Escola (QNesc) e não menos importante, a primeira participação do grupo PIBID Química da Universidade Federal da Bahia em um evento Nacional da área de Ensino de Química.


Mesmo sendo "calouro" no XV ENEQ, o grupo PIBID Química chegou em Brasília chamando atenção pela quantidade significativa de trabalhos apresentados no evento, relatando diversas atividades realizadas em 2009 nas Escolas conveniadas ao programa. Ainda por cima, o grupo voltou para a Bahia trazendo o próximo Encontro Nacional de Ensino de Química na bagagem, pois Salvador foi escolhida como sede do XVI ENEQ, que acontecerá em 2012.

Para dar uma idéia da grandiosidade do XV ENEQ, fotografamos alguns dos melhores momentos do XV ENEQ para os seguidores do Quiblog!:



Acima, alguns dos estudantes de Química da UFBA que apresentaram trabalhos no XV ENEQ.





A maior parte dos estudantes expuseram seus trabalhos na forma de painel, ao todo foram 09 trabalhos nessa forma de apresentação e 02 trabalhos na forma de comunicação oral. Na imagem, Marcus Santos (esq.), Lucilene Ramos (dir., abaixo), Letícia Pereira e Claudiane Lima, todos bolsistas do PIBID UFBA.







Não só os bolsistas, mas também os professores supervisores das escolas conveniadas e os professores orientadores da UFBA prestigiaram o evento. Da esquerda para a direita: prof.a Bernadete Cunha (Col. Est. Luis Viana), prof. Edilson Moradillo (IQ-UFBA), Letícia Pereira (bolsista PIBID-UFBA), prof.a Maria da Conceição Oki (IQ-UFBA) e Renato de Jesus (bolsista PIBID-UFBA).




Eventos como o XV ENEQ são importantes para que os estudantes conheçam importantes pesquisadores da sua área de trabalho. Acompanhado dos bolsistas estão o prof. Marcelo Giordan - USP (esq. acim.), prof. Otávio Aloisio Maldaner - UFRGS (esq., abaix.) e o prof. Eduardo Fleury Mortimer - UFMG.


As bolsistas Lucilene Ramos e Letícia Pereira tietando o prof. Aureli Caamaño - Univ. de Barcelona (esq.) e o prof. Márlon Soares - UFG (dir.)